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.Por isso a substância da alma nãoparece nem privada de dia natal nem isenta de morte.45No texto que se segue, Lucrécio traz ainda em apoio de sua tese que a alma não se pode desprender, sem que pereça, do corpo em queestá estabelecida, tal a intimidade das suas implicações. 46Depois, ficarão por acaso germes de alma no corpo inanimado?5F Se ficam e6nele residem, não haverá possibilidade de ser considerada imortal, visto que seretirou privada das partes perdidas; mas se, ao separar-se, fugiu com membrosinteiros, de modo a não deixar no corpo nenhuma parte de si mesma, donde vemque produzem os cadáveres, a carne já podre, vermes, donde vem que uma tãogrande abundância de animais sem ossos e sem sangue se agite por entre osmembros tumefactos?E se por acaso admitires que as almas se podem introduzir de fora nosvermes e podem vir uma a uma alojar-se nos corpos, e não deres uma razão paraque tantos milhares de almas se reúnam no lugar de onde só uma se retirou, pareceque se tem de investigar e de discutir se realmente as almas andam à caça de cadagerme de vermezinho e se constroem elas mesmas lugar onde residam ou se entãose introduzem nos corpos completos.Mas não se poderia dizer por que motivo ofariam elas próprias ou por que razão trabalhariam.Efetivamente, enquanto estão sem corpo, voejam sem se afligir comdoenças, frio e fome.O corpo está muito mais sujeito a estes males e o espírito, porcontágio, sofre por muitos males que são dele.Mas, embora lhes seja útil fazer umcorpo em que entrem, não se vê nenhum caminho pelo qual isto lhes seja possível.As almas não se constroem, portanto, um corpo e membros.Também não seintroduzem em corpos já completos, porque não poderiam estar intimamenteligadas com eles nem se realizariam contatos de sensibilidade.47Depois, por que razão5F segue a dura violência à áspera raça dos leões e a7fraude à raposa e é dada a fuga aos cervos por seus pais e o pavor ancestral lhesincita os membros? Por que razão todas as coisas deste gênero aparecem desdetenra idade na predisposição de cada um, se não é porque em cada germe, em cada46Lucrécio pensa ainda, segundo parece, que uma parte da alma fica no corpo e, subdividindo-se, dá as almas que vão animar os vermes.47O poeta crê que o fato de haver persistência de caracteres psicológicos diferentes de espécie a espécie vem a favor das suas idéias sobrea mortalidade da alma; rigorosamente, só se poderia apresentar tal verificação como argumento se se pensasse que as almas podiam,indiscriminadamente, penetrar em.qualquer corpo; caso contrário, poderia sempre responder-se a Lucrécio que cada alma procurariasempre o corpo apropriado.É para prevenir, no entanto, esta réplica, que Lucrécio põe como ininteligível e, por conseguinte, inaceitável,que a alma humana, por exemplo, transmigre de adultos a crianças. raça, existe uma determinada força de espírito que se desenvolve juntamente com ocorpo?De fato, se o espírito fosse imortal e passasse de um corpo a outro, osanimais seriam de costumes mistos: muitas vezes um cão de raça hircana se furtariaao ataque de um cornígero veado e o açor tremeria pelas auras do ar, fugindo, aovir a pomba; seriam os homens irracionais e teriam razão as bravias gerações dasferas.É por um raciocínio errado que se afirma que a alma imortal se modifica aotrocar de corpo: o que muda se dissolve e, portanto, morre.Efetivamente, as partesda alma deslocam-se e mudam de posição: devem, por conseguinte, poder tambémdissolver-se nos membros até que finalmente pereçam inteiras com o corpo.E, sese disser que as almas humanas sempre vão para corpos humanos, aindaperguntarei como pode ser que de sapientes fiquem tolas, e não tenha experiênciamenino algum, nem seja o filhote de égua tão hábil e forte como o cavalo adulto.Dirão como refúgio que num corpo tenro se faz tenro o espírito.Se isto éassim, ter-se-á que dizer que a alma é mortal, porque, ao trocar de membros, perdetão fortemente a vida e a sensibilidade anteriores.Mas de que modo poderá a forçado espírito, juntamente com o corpo, chegar, já firme, àquela desejada flor da idade,a não ser que lhe tenha sido consorte desde os primeiros tempos? Por que razãoquer sair dos membros caducos? Acaso teme ficar fechada num corpo podre e cair-lhe a habitação já cansada pelo largo tempo? Mas, para imortais, não há perigonenhum.48Finalmente, parece ridículo5F que a alma assista aos conúbios de Vênus e aos8partos das feras e que, sendo imortais, lutem em número incalculável pelosmembros mortais e se batam entre si para entrar primeiro e com mais força; a nãoser que haja entre as almas combinação estabelecida, de maneira a entrar primeiro aque primeiro chegue voando, sem que haja qualquer encontro violento.48Insistindo na tese, para ele fundamental, Lucrécio apresenta como absurdo que almas imortais disputem entre si a entrada num corpomortal.Por outro lado, a alma não pode viver fora do corpo mortal e, a considerarmos a alma como imortal, ver-nos-íamos em dificuldadespara explicar como pode ela viver unida a um corpo mortal.Por fim, mostra que a alma não apresenta nenhum dos caracteres que lhegarantiriam a imortalidade. Por fim, nem a árvore pode subsistir no ar, nem as nuvens no alto mar, nemos peixes viver nos campos, nem existir sangue nos lenhos, nem haver seiva naspedras.Está determinado e disposto o lugar onde cada coisa tem de crescer eresidir.Assim, a substância do espírito não pode nascer sozinha sem o corpo nemestar muito longe dos nervos e do sangue.Se realmente o conseguisse, maisdepressa poderia a própria força do espírito existir na cabeça ou nos ombros ou nofundo dos calcanhares, e nascer em qualquer parte, porque sempre estaria nomesmo homem, no mesmo vaso.Mas como se vê que há no nosso corpo lugardeterminado e disposto onde a alma e o espírito podem crescer à parte, tanto maisdevemos negar que possam gerar-se e perdurar fora do conjunto do corpo.Porisso, quando o corpo morre tem de se confessar que perece a alma dispersa pelocorpo todo [ Pobierz caÅ‚ość w formacie PDF ]
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